Skip directly to content

Operário e Londrina, os clubes que marcaram sua história no Brasileirão de 1977

Por: 
Reprodução : Por: Emmanuel do Valle - Blog Trivela - UOL
06/03/2018

 

Nos dias atuais parece inacreditável, mas no Campeonato Brasileiro de 1977 (que se estendeu pelo início de 1978) um clube do Mato Grosso do Sul e outro do interior do Paraná se colocaram juntos cada qual com seu mérito e ambos derrubando gigantes do futebol brasileiro – entre os quatro melhores times do país. Há 40 anos, as grandes campanhas do Operário de Campo Grande e Londrina no torneio nacional impressionaram o Brasil e entraram para a história da competição. Elencos até hoje venerados pelas duas torcidas, que permanecem figurando entre os melhores no passado “alternativo” do Brasileirão.

 

Havia diferenças gerais entre os dois clubes. O Operário, por um lado, sustentava uma equipe de medalhões e que dominava o então Campeonato Mato-Grossense a partir da adoção do profissionalismo. O Londrina, por sua vez, confiava mais em jovens promessas, sem a mesma badalação dentro de seu estado, mas ascendendo no torneio nacional. Em comum, o cartel respeitabilíssimo ao longo daqueles meses entre 1977 e 1978, com várias camisas pesadas ficando pelo caminho – apesar dos atalhos distintos dentro do regulamento. Nas semifinais, acabaram não resistindo a São Paulo e Atlético Mineiro, o que não diminui as façanhas que escreveram.

 

Vamos relembrar aqui a campanha do OPERÁRIO FUTEBOL CLUBE para os torcedores mais jovens e mexer com as lembranças dos mais saudosistas, tempo em que o estádio Morenão tinha sua lotação nos jogos do Galo no Brasileirão e também nos clássicos com o Comercial, seu eterno rival.

 

O regulamento

 

Antes de contar a trajetória do Operário F.C uma das duas surpresas daquele Brasileiro, é preciso explicar o regulamento em detalhes – afinal, estamos falando de futebol nacional dos anos 70. O campeonato daquele ano contou com 62 equipes, divididas na primeira fase em seis grupos: quatro com 10 e dois com 11. O Operário ficou no A, ao lado dos gaúchos Internacional, Grêmio, Caxias e Juventude, dos paranaenses Coritiba e Grêmio Maringá, dos catarinenses Joinville e Avaí e do Dom Bosco de Cuiabá. Já o Londrina foi colocado no D, ao lado dos cariocas Vasco e Botafogo, da dupla campista Americano e Goytacaz, dos goianos Goiás, Vila Nova e Goiânia, do Atlético Paranaense e do Brasília.

 

Ao fim da primeira fase, os cinco melhores de cada um dos grupos avançavam para os chamados grupos “de vencedores”, nos quais eram redistribuídos em seis grupos de cinco equipes, das quais as três melhores avançavam para a terceira etapa. Os que ficaram da sexta colocação para baixo iriam para a repescagem, na qual enfrentavam novamente os adversários do grupo valendo uma vaga em cada chave para a fase seguinte. Assim, 24 equipes disputariam a terceira fase, divididas em quatro hexagonais, classificando-se um de cada para as semifinais – única etapa com jogos em ida e volta em todo o campeonato – e então a decisão, em jogo único, na casa da equipe com melhor campanha.

 

Por fim, havia uma peculiaridade, vigente nos Brasileirões entre 1975 e 1978: num tempo em que as vitórias valiam dois pontos, os triunfos por mais de um gol de diferença (fosse por 2 a 0 ou 6 a 0) davam ao ganhador um ponto extra.

 

 

 

 

Operário Futebol Clube

 

Fundado em 1938 por trabalhadores da construção civil (daí o nome), o Operário Futebol Clube, de Campo Grande, só se profissionalizou no início da década de 1970, passando a disputar o campeonato do Mato Grosso – que na época era um estado só, antes do desmembramento do sul, definido em outubro de 1977, mas só reconhecido oficialmente com estado em janeiro de 1979. Rapidamente, o Galo se colocou como uma das forças do estado, conquistando o estadual de 1974 e mais tarde o tri em 1976/77/78.

 

No mesmo ano em que levantou seu primeiro estadual, fez sua estreia no Campeonato Brasileiro, no lugar do rival Comercial, que participou da edição anterior. Fez boa campanha na primeira fase (sétimo colocado numa chave com 20 clubes, à frente de Corinthians e Palmeiras) e conseguiu avançar para a etapa seguinte. Acabou num bom 17º lugar entre 40 participantes. Depois de ver outra vez os Comercialinos representarem o estado no Brasileiro seguinte, o time voltou à disputa em 1976.

 

Naquele ano, o técnico era Carlos Castilho, ex-goleiro do Fluminense e da Seleção Brasileira, que iniciou a caminhada do Tri Estadual vencendo o primeiro título e fez bom papel no Brasileiro. Castilho saiu para dirigir o Internacional no começo de 1977,, sendo substituído por outro ex-jogador de Seleção, o “Príncipe” Danilo Alvim. Com ele, o time venceu os três turnos do estadual e levantou o bi-campeonato. Mas logo depois da conquista, ele foi contratado pelo América do Rio. Para o posto, retornou Castilho, que não havia tido sucesso em Porto Alegre, mas contava com a confiança e o apoio dos Operarianos.

 

Na primeira fase, o time já demonstrou competitividade: estreou segurando o próprio Inter, bicampeão brasileiro, num empate em 0 a 0 no estádio Pedro Pedrossian, e terminou em quarto lugar na chave, atrás apenas da dupla Gre-Nal e do Grêmio Maringá, campeão paranaense. Mas a torcida ainda parecia cética. Até o clube anunciar, perto do fim daquela etapa, um novo reforço: o veterano goleiro Manga. Recém-dispensado pelo Inter, o arqueiro já quarentão foi recebido com festa em Campo Grande e tratou de responder aos cartolas colorados: “O fenômeno ainda é o Manguinha”, bradou na apresentação.

 

Manga estreou na penúltima partida da primeira fase, em 23 de novembro, um empate em 3 a 3 com o Caxias no estádio Centenário. Na partida seguinte, contra o Grêmio de Telê Santana no Olímpico, outro grande resultado: os mato-grossenses saíram na frente, sofreram a virada para 3 a 1, mas mesmo fora de casa reagiram e empataram, graças a um gol antológico de bicicleta de Everaldo aos 41 minutos da etapa final. Com seis gols sofridos nos primeiros dois jogos, o desempenho inicial do veterano arqueiro gerou questionamentos. Mas ele os respondeu fechando o gol pelo resto do campeonato: nas dez partidas seguintes, seria vazado apenas em quatro, sendo três fora de casa.

 

O restante do time titular era muito bem definido e coeso, o que ajudou na regularidade da campanha. A defesa começava com o lateral-direito Paulinho, há muitos anos no clube. Escurinho, irmão mais novo do centroavante de mesmo apelido do Internacional e vindo do próprio time gaúcho era o lateral-esquerdo. A dupla de zaga contava com o central Biluca, trazido do América do Rio em troca por Heraldo (da mesma posição), e o experiente quarto-zagueiro Silveira, ex-Fluminense, quatro vezes campeão carioca e uma vez do Torneio Roberto Gomes Pedrosa.

 

No meio-campo, havia um volante fixo – primeiro Dito Cola, depois Édson – fazendo a cobertura do setor defensivo. Daí para frente, todos os demais jogadores tinham perfil mais ofensivo: meia-armador talentoso, Marinho (ex-Colorado-PR) conduzia as jogadas ofensivas. Mais à frente, jogava Roberto César, emprestado pelo Cruzeiro. Centroavante de origem atuava um pouco mais recuado, como ponta de lança, aproveitando seu bom passe. Na frente, o trio era formado pelo ponta-direita Tadeu (outro camisa 9 deslocado de função), o centroavante Everaldo e o ponta-esquerda Peri, veloz e driblador.

 

 

 

 

Na segunda fase, em tese, a disputa se acirraria: o Operário teria de brigar por uma das três vagas com dois timaços: o Botafogo de Paulo César Caju, Mário Sérgio, Gil, Mendonça, Bráulio, Nilson Dias e outros grandes jogadores e o Fluminense ainda com resquícios da Máquina Tricolor, contando com Rivelino, Doval, Edinho, Pintinho e Marinho Chagas. Havia ainda um ascendente Botafogo de Ribeirão Preto, comandado por um jovem talento de nome Sócrates. Correndo por fora, vinha o CSA, que endurecera seus jogos na primeira fase, mas não tinha grandes chances.

 

O Operário estreou com um resultado ruim: empate sem gols ao receber o Botafogo paulista, e foi dado como virtual eliminado. Mas reagiu já na partida seguinte, vencendo o Fluminense em casa por 2 a 1. Faltavam os dois jogos fora de casa. No primeiro, Manga reencontraria o seu velho Botafogo no Maracanã. O empate em 1 a 1 foi surpreendente e recolocou a equipe de vez como candidata à classificação. A confirmação da vaga viria no último jogo, vitória por 2 a 0 sobre o CSA em Maceió que deixou a equipe com os mesmos sete pontos do líder Botafogo carioca, mas atrás apenas no número de gols marcados.

 

Na terceira fase, a equipe de Castilho foi incluída no Grupo V, que tinha como grande favorito o Palmeiras de Leão, Marinho Peres, Beto Fuscão e Jorge Mendonça, invicto até ali. A segunda força do grupo, junto com o próprio Operário, era o Santa Cruz, dirigido por Evaristo de Macedo e que tinha no elenco Givanildo, Betinho, Fumanchu e Nunes. Um pouco mais abaixo vinha um perigoso time do América do Rio, que na fase anterior passara sem derrota por um grupo com Inter, Corinthians e São Paulo. Remo e Desportiva eram os azarões, mas com chance de aprontar – especialmente o primeiro.

 

Como na fase anterior, outra vez o Operário estreou com 0 a 0 em casa, agora contra o Santa Cruz. No dia 12 de fevereiro veio o jogo com o Remo em Belém, interrompido sem abertura do placar aos 25 minutos do primeiro tempo depois que parte do alambrado do estádio Evandro Almeida cedeu. Enquanto se desenrolava o imbróglio a respeito da nova partida, o Operário goleou a Desportiva em casa (5 a 0) e bateu de modo categórico o América dentro do Maracanã (2 a 0), vitórias que renderam seis pontos.

 

O jogo com o Remo chegou a ser remarcado para o campo neutro de São Januário, já que o Evandro Almeida não oferecia condições de segurança (e ambos os clubes vinham de partidas próximas no Sudeste). Mas, depois de pressão do senador paraense Jarbas Passarinho, acabou disputado mesmo para Belém, no ainda não inaugurado Mangueirão. Os azulinos venceram por 2 a 0, mas escalaram irregularmente o meia Mesquita, motivando o Operário, antes mesmo da última rodada, a entrar com mandado de segurança na CBD pleiteando os pontos do jogo.

 

 

Entretanto os dirigentes acabaram desistindo do recurso depois que o clube mato-grossense conseguiu sua vaga em campo, de modo um tanto dramático: o time vencia o Palmeiras – que também entrou naquela rodada com chances de classificação – por 2 a 0 em Campo Grande e somava três pontos, indo a 10. Entretanto, o Santa Cruz também derrotava o Remo no Arruda pelo mesmo placar e chegava aos 11. Até que Mesquita, o jogador de escalação contestada, descontou para os Remistas no último minuto, fazendo os pernambucanos perderem um ponto em sua vitória. Com o empate na pontuação, o Operário avançou às semifinais pelo melhor saldo de gols.

 

O adversário seria o São Paulo de Rubens Minelli, vencedor dos dois Brasileirões anteriores pelo Internacional. O experiente treinador tinha nas mãos um elenco com limitações, mas com jogadores capazes de decidir, como o centroavante Serginho. No primeiro jogo das semifinais, em 26 de fevereiro num Morumbi lotado com mais de 103 mil torcedores (recorde do campeonato), o Tricolor teria grande dificuldade para abrir o placar.

 

Só mesmo aos 31 minutos da etapa final, numa jogada ensaiada, o camisa 9 balançou as redes. Aos 41, em lance polêmico, Bezerra cruzou para a área, a defesa do Operário parou e o meia Neca (que havia entrado no lugar de Darío Pereyra) completou em posição duvidosa, anotando o segundo gol. Pela reclamação, o lateral Escurinho acabou expulso. No fim, aos 47, Serginho desviou de cabeça na primeira trave uma cobrança de escanteio e completou um placar bem mais confortável do que foi o jogo.

 

O Operário, entretanto, levantou a cabeça e venceu o jogo de volta no estádio Pedro Pedrossian por 1 a 0, gol do ponteiro Tadeu, antecipando-se à marcação para desviar um cruzamento da direita para as redes. O placar não foi suficiente para levar o clube à decisão (que já garantiria uma vaga na Taça Libertadores da América), mas serviu para encerrar numa nota alta, batendo mais um grande, uma campanha histórica: terceiro colocado com 10 vitórias, seis empates e apenas quatro derrotas, permanecendo invicto em casa.

 

 

 

Depois dela, o clube voltaria a fazer bom papel no Brasileiro em outras edições, como em 1979, 1981 (caindo nas quartas de final para o futuro campeão Grêmio), 1982 e 1984 (chegando às oitavas de final nestes dois). Em 1987 o Galo conquistou o Brasileiro da série B do módulo Branco, jogando um triangular contra o Paysandu–PA e o Botafogo-PB, conquistou o título com um empate contra o time da Paraíba, e uma vitória contra o Papão de Belém, sendo até hoje o único clube do Mato Grosso do Sul a conquistar um título Nacional.

 

Mas, ao longo da década de 90, progressivamente perderia força no cenário Nacional e até mesmo dentro do estado. Suas últimas conquistas foram o bi estadual em 1996 e 97, e chegou a ser rebaixado e a desistir de participar do torneio por problemas financeiros depois de algumas gestões administrativas sem sucesso.

 

Novos tempos

 

Nos dias de hoje, tenta se reerguer com uma nova gestão tendo a frente o Presidente Estevão Petrallás, que depois de trazer o clube em 2015 de volta a elite no estado, nos anos de 2016 e 2017 chegou as semifinais do Campeonato local perdendo para os campeões da época Sete de Dourados e o Corumbaense. Em 2017 e 2018 voltou a disputar jogos nacionais disputando a Copa Verde.

 

Este ano já está classificado para os jogos finais do campeonato Estadual que dará direito ao Campeão ser o representante do Estado aos principais competições Nacionais como a Copa do Brasil, Brasileirão da Série D e da Copa Verde. Esse é o objetivo da diretoria, trazer o grito de “È Campeão” para sua imensa torcida Operariana apaixonada e vibrante, a maior do Mato Grosso do Sul.

 

 

Em 2018 o Galo conta com a experiência do Zagueiro Rodrigo Arroz e do atacante Rodrigo Grahl