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Vidas Negras Importam - Racismo é Crime

Por: 
Professor Carlos Versoza - Arte Endrigo Zotelli
08/06/2020

Em 1938 um grupo formado por catorze homens, os quais eram jogadores de futebol, entrou para a História esportiva do então Sul de Mato Grosso, por acreditarem e lutarem por um ideal pelos quais todos aspiravam naquele momento, à liberdade de expressão. Eram jovens e adultos que desafiaram o status quo da época que impunha aos pobres e, sobretudo para os negros o não direito de se expressarem por iniciativa própria, suas aspirações.

 

Por meio do futebol enfrentavam as dificuldades da pobreza, dos preconceitos sociais e, sobretudo a discriminação racial, visto que desse grupo, oito eram pretos ou pardos e o Brasil há pouco tempo (1888) via chegar ao fim o regime de Escravidão que dominou o país por 350 anos e massacrou a população negra de origem africana.

 

A luta contra o Racismo está no cerne da criação do Operário Futebol Clube, que se tornou um clube dos trabalhadores e admirado pelos mais humildes, já que além de trazer o próprio nome em referência a uma classe distinta, trazia em sua representatividade dentro do campo um aspecto do mundo externo e real ao qual o Brasil retratava.

 

Num período de formação e início de suas atividades ocorrido em plena Ditadura política do Estado Novo (1937-1945) de Getúlio Vargas, onde movimentos sociais eram “cuidadosamente” inspecionados, o Operário Futebol Clube, um time de “excluídos” socialmente, visto que na época na maioria dos clubes de lazer e desporto de Campo Grande era proibida a entrada de pessoas negras, mostrou-se capaz de enfrentar esse desafio, que por razões obvias era feito de modo suave e desafiador.

 

 

 

 

Nos dias atuais o clube não pode se omitir aos anseios da luta contra o Racismo, não só pelos homens e mulheres negras que ajudaram e ajudam a construir esse clube dentro e fora do campo, bem como por respeito e solidariedade pela grande parcela da sociedade sul-mato-grossense, brasileira e mundial que em homenagem a cruel e injusta morte de George Floyd nos EUA e do menino João Pedro, no Rio de Janeiro, foi e estão indo as ruas protestar clamando que Vidas Negras Importam. Não basta não ser racista. É necessário ser antirracista.

 

O Racismo é sorrateiro e precisa ser combatido todos os dias por toda a sociedade, não só pelas vítimas , mas sobretudo por quem se beneficia dessa prática e "naturaliza” o mal que é feito contra o outro ser humano simplesmente por causa da cor de sua pele. O futebol nos dá uma das chaves para esse combate, visto que é um dos poucos esportes e situações sociais em que o(a) negro(a) tem a possibilidade de disputar em condições de igualdade com qualquer outra pessoa, pelo menos dentro do campo.

 

Autor do Texto: Carlos Alberto da Silva Versoza, Professor de História da Rede Estadual de Ensino, Historiador da Fundação de Cultura de MS, Conselheiro do Operário Futebol Clube, ex-presidente do CEDINE/MS (Conselho Estadual dos Direitos do Negro) 2013/2014, ex-Coordenador do Sistema Estadual de Museus de MS (2014), ex-subsecretário de Promoção da Igualdade Racial de MS (2015/2017).